Vigésimo quinto dia: Pisando Leve

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No meu entender, “pisar leve” tem a ver com “não deixar marcas”. Me faz pensar imediatamente em redução de peso ou impacto, me faz pensar no elfo Legolas saltando sobre a neve enquanto os demais membros da sociedade cavavam seu caminho, afundados nela.

Bem, filosoficamente falando, na minha opinião não deixar marcas é impossível. Tudo o que fazemos ou dizemos tem algum impacto, e deixa alguma marca no mundo e naqueles que conosco convivem. Um bom exemplo, para mim, seria justamente esses 30 Dias Druídicos. Endovelicon começou a corrente, e teve tempo de terminar os 30 dele antes que outra pessoa começasse. E então, Wallace começou. E eu comecei, e Rodrigo começou, e então outros também começaram. Foi mais ou menos como acontece quando uma folha seca cai na superfície de um lago de águas paradas: criou-se uma onda, pequena a princípio, mas que foi ampliando-se e ampliando-se, até tomar o lago inteiro. “Nossa floresta cobrirá o planeta”, eu disse ao Endovelicon em um comentário, mas é assim mesmo que as coisas funcionam – cada árvore produz muitos frutos e cada fruto contem em si a semente que promete uma nova árvore.

Ainda falando dos 30 Dias Druídicos, agora falarei sobre o específico, sobre este blog, estes 30 dias que eu estou fazendo. Para começar, só consigo falar de mim mesma, da minha experiência e de como o tema aplica (se é que se aplica) na minha vida cotidiana. Vários motivos. Primeiro, porque para mim religião é algo que você vive, não algo que você tem. Então, se você não consegue traçar paralelo entre ela e a sua vida, algo não está funcionando como deveria. Segundo, porque não me sinto segura para fazer afirmativas generalizadas, dar conselhos ou instruções, ou expressar verdades: eu só posso falar do que eu vi, vivi ou senti, do conhecimento que fui testemunha, e tentar explicar como foi que ele me chegou. Mais do que isso estaria além do meu alcance.

É que (como já disse lá no primeiro post deste blog), eu não me considero Druida (e nem acho que essa palavra tenha lugar no nosso contexto social), e não me considero Barda, embora goste de escrever e estude lá meu violino. Também não me considero Vate, por mais que jogue meu tarot e faça minhas magias ocasionais. Em todos esses grandes arquétipos, sempre me encaixei no aurrad, no membro da tribo – aquela pessoa comum, simples, que faz a sua parte, que produz, compartilha e participa. Sou amadora e experimental. Por profissão, posso ser considerada artesã ou professora. E é isso aí. Não tenho pompa nem título nem lugar de honra. Estou ali com o povão, na meiúca da pirâmide, oferecendo humildemente minha parte do trabalho.

Mas ainda assim, o que faço cria impacto. Deixa marca. É impossível que não deixe.

Desde que comecei os 30 Dias, tenho visto pessoas variadas, de variadas esferas de convivência comigo, ex-colegas de trabalho, de rpg, de faculdade, escola, ex-alunos… virem comentar comigo a respeito das coisas que escrevo. Comentam aqui no blog, e às vezes no facebook. Mas principalmente, comentam pessoalmente ou no msn. Pessoas variadas, algumas das quais nem sabiam meu caminho espiritual (sou discreta quanto a isso normalmente), que vem comentar coisas que eu escrevo, concordando, discordando ou pedindo mais informações. Uma amiga me fez o coração inchar de felicidade quando disse que, lendo o que eu escrevi, ela compreendeu certas coisas na mente dela, que meus textos a ajudaram. E eu nem ao menos divulgo tanto assim! Eu posto aqui e vou ali no facebook colar o link, e fica por isso mesmo. Mas, mesmo assim, causa impacto. Marca.

Tudo o que fazemos marca algo ou alguém, eu tinha uma professora na Faculdade de Educação que sempre falava disso. Temos uma grande responsabilidade ao lidar com as pessoas, porque nossas palavras e ações sempre geram reações.

Pisando leve para mim não tem como se relacionar a não deixar marca, porque isso seria impossível – mas tem sim tudo a ver com que tipo de marca vamos deixar. Precisamos sempre pensar nas reações às nossas ações. Precisamos pesar palavras, escutar nossa própria voz, meditar a respeito dos nossos atos. Precisamos entender que algumas das repercussões daquilo o que fazemos ou falamos às vezes só podem ser percebidas daqui a vários anos.

Citando As Crônicas de Gelo e Fogo (porque estou viciada nesse livro): mesmo a menor das pessoas pode projetar uma longa sombra.

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